Desde o dia 13 de agosto de 2000 que abomino esse dia. Não só porque eu perdi meu pai e daí teria que passar todos os dias dos pais sem o meu. Mas porque eu perdi meu pai no dia dos pais e, se esse ano não fosse bissexto (graças a Deus ele foi), seria novamente assim... completar 12 anos no dia dos pais e lembrando o que foi passar aquele dia e os dias depois daquele dia.
Acredito que não gosto desse dia por ter invejinha de quem tem com quem passar, mas ao mesmo tempo feliz por ainda terem. Talvez mude meu pensamento quando eu tiver um filho (assim espero).
Eu sinto falta de tirar carrapixo da meia (quem não é de cidade pequena, não sabe o que é), de jogar caprô, de fazer cosquinha na carequinha, de ouvir histórias de "cumade raposa" aí depois descobri que o senhor era raposeiro (uma decepção... mas desde pequena nunca gostei de raposa, hahaha. Acho que eu já teria mudado sua opinião pra torcer para um time da série C :) ), de ouvir o barulho das moedas balançando no bolso da camisa de botão sempre aberta e gritando KEEEEEEEEEELLYYYYYY!, de quando o senhor dizia: "cadê o xerin de paaai?", de quando o senhor ficava procurando minha mão pra eu pegar na sua, de quando a gente ia fazer caminhada e eu ficava no meio pra o senhor não pegar na mão de mainha, depois eu deixava, aí depois mudava de opinião e não deixava de novo, de quando, até hoje, sempre tive meu quarto, mas sempre dormi na cama de vocês e no meio (claro), de quando o senhor tentou me ensinar a nadar mas mainha não deixou e de quando comprou e tentou me ensinar a andar de bicicleta e mainha também não deixou (e até hoje eu não sei nenhum dos dois, kkk), de quanto me botava no colo pra eu fingir que tava dirigindo, de quando o rio de Caraúbas tinha uma cheia de madrugada e o senhor acordava todo mundo pra viajar (se tivesse em Campina) ou pra ir olhar (se estivesse lá), de quando o senhor acordava de madrugada e ia fazer café parecia que tava desmontando a cozinha, de quando andava arrastando o chinelo (eu até ouvi isso uma vez, mas fiquei com medo de olhar --'), até dos bodes que o senhor levava pra casa e eu morria de medo (até hoje); saudades de dizer (em cima da velha fiorino): "Corre, paiiiiinhooooo!" na ladeira antes da vaca morta, quase chegando em Caraúbas, porque sempre dava um friozinho na barriga, de dançar as quadrilhas da Passagem com o senhor, de tomar banho de mangueira quando ia lavar o carro, de viajar. De ir buscar o senhor no bar eu não sinto falta, mas era engraçado porque os vein ficava me enrolando e dizendo "vamo jogar um dominózin", "mas olhe nessa mãozinha já cabem 4 pedras!" ou Zé Boquinha escondendo minha sandália e só devolvia quando o senhor queria vim; e Zé morreu sem eu nunca conseguir achar minha sandália ou nunca conseguir ver como ele pegava! De como todo mundo gostava do senhor, que era tão simpático e alegre com todo mundo - quase que eu puxo ao senhor nisso, só que não kkk :) - de quando eu ia pra o chagas depois da missa e mainha mandava o senhor ir me buscar e brigar comigo, aí o senhor dizia "quando chegar em casa tu chora, que Maria mandou eu brigar!", que quando eu tava doente, me dava picolé e outras coisas geladas escondido dela, ou quando mainha jogava minha chupeta fora, o senhor me dava outra. Saudades de tantas coisas... eu era super fã do palhaço Pipoquinha, daí em um aniversário meu o senhor foi com Beto onde Pipoquinha tava e trouxe um disco dele autografado pra mim, quando Chiquititas veio fazer um show aqui e mainha não deixou eu ir, mas o senhor quis levar Thayssa, Thayane e eu no hotel (mas eles já tinham ido embora :~). Saudades do senhor dançar um forrózinho com tudo de bom que acontecia, de sempre gritar "ÊÊÊÊÊ" com todo mundo que chegava aqui em casa, mesmo que fosse 10 vezes no dia. Saudades de me levar pra o parque, de ir na roda gigante comigo pra eu perder o medo, uma vez até faltou energia e a gente ficou parado bem em cima e eu nem fiquei com medo. Saudades de quando o senhor ia comprar umas folhas de papel pautado pra eu escrever minhas historinhas e depois lia e quando Kalha ia lá, ela corrigia. Quando o senhor ficava mando eu cantar Sandy e Júnior porque minha voz era bonita (kkkkk). Quando ia ter festinha na escola no outro dia e eu pedia pra o senhor me acordar e nunca me acordava porque dizia que eu "tava dormindo tão bonitinho".
O senhor ajudava todo mundo sem olhar a quem, não cobrava, não passava na cara... era de coração mesmo. Os guri que gostavam porque o senhor comprava pipoca e bala pra todo mundo.
Sinto falta até do que eu não tive e não terei. Sinto falta de que o senhor não viu eu saindo do colégio, eu dançando, de quando eu passei no vestibular, não foi o senhor que me ensinou a dirigir, de que o senhor não conheceu meu namorado mas faço questão de que ele lhe conheça, já que sempre falo do senhor e até quando perco pra ele no dominó (que é raro, hauihai) fico imaginando o senhor dizendo: "aiai, foi assim que eu ensinei?" haiuahiua, que o senhor não dançou comigo a valsa dos meus 15 anos e nem vai dançar a da minha formatura, não vai me ver trabalhar na minha área e nem vai ver a construção da minha clínica que o senhor mesmo contribuiu para o início que se Deus quiser vai acontecer, nunca vou nem saber se gostou da minha escolha, não vai entrar comigo na igreja e me levar ao altar, não vai conhecer meus filhos e ficar babando eles igual babou os netos que conheceu. Não vai ver nem a gente ganhando na política pela primeira vez, se Deus quiser, kkkkk. Como o senhor sempre quis. E nem viu Peta comprando a primeira caminhote dele e mainha até comprou a dela. Nem viu Ivandizinho, meu Guti que tanto amo, que tem seu nome e que não tem como lembrar do senhor quando eu vejo ele.
Tantas saudades, tantas...
Não vou negar que eu tenho raiva porque o senhor me deixou um mês depois de que completar 10 anos, no dia dos pais, quando eu nem lhe vi uma última vez, como a maioria teve a chance de fazer isso. Além de todos terem convivido 30 anos com o senhor e eu só tive direito a 10? Como o senhor passou o dia todinho no Sanharó naquele dia e eu mal lhe vi e, depois de uma demora enorme e todo mundo tá preocupado, o senhor chegou em casa já de noite, todo machucado e veio embora pra Campina, uma correria só e eu nem me despedi direito porque achei que ia lhe ver de novo. Que mesmo quando o senhor ligou pra Caraúbas mandando me trazerem pra Campina pra o senhor me ver... eu nem falei com o senhor no telefone! Nem ouvi sua voz mais! E quando eu finalmente cheguei, o senhor já tinha voltado pra o hospital, já tava em coma na UTI e eu nem pude dizer que eu amava (e amo) o senhor, nem pude dar um abraço e nem um último xerin. Não pude lhe tocar nem no velório, já que era lacrado. Nem essa última vez.
Mas quero que o senhor saiba que não tem um dia que eu vá dormir que não reze pra o senhor, que não tem um dia que eu acorde que eu não pense no senhor, que não tem uma vez que eu vá pra Caraúbas que eu não lembre do senhor, que não tem uma vez que eu vá dormir que não lembre que é o lado que o senhor dormia, que não tem uma festa de São Pedro e as músicas da igreja que o senhor tanto gostava que eu não lembre, que não tem uma vez que eu passe pelo cemitério que eu não olhe para aquele túmulo, mesmo sabendo que o senhor não está mais lá e na verdade nunca esteve.
Há dois anos sonhei com o senhor. Foi tão real, que cheguei até a sentir. Acordei chorando feito um bebê. Queria nem ter acordado pra sentir só mais um pouquinho. E ainda vou descobrir o que o senhor quis me dizer.
Obrigada por tudo que fez por mim, mesmo que eu seja tão mal agradecida.
E eu te amo demais! Demais!
E morro de tanta saudade que chega dói. Te amo, pain. TE AMO!
Chorei lendo :'(
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